segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Há 40 anos os bondes de Santos saíam de circulação

Bonde em 1970 (Foto: Cidade de Santos)

Na madrugada de domingo, dia 28 de fevereiro de 1971 voltava para a garagem o bonde da linha 42, para encerrar o ciclo de operação comercial dos bondes de Santos. No sábado (27) sairam da garagem do S.M.T.C. (Serviço Municipal de Transportes Coletivos) os bondes das linhas 17 e 42, e ao longo do dia fizeram seu itinerário normal, sendo o último dia, conforme cronograma que vinha sendo anunciado pela empresa.

Os bondes não tiveram um fim inesperado, na época. Tudo havia sido planejado desde o final dos anos 1960. Durante aquela década a cidade ganhou um novo meio de transporte: o trólebus. Porém, este novo serviço apenas substituiu algumas linhas de bondes, principalmente as do Macuco. A partir de 1968 também os trólebus deixaram de ser de interesse do S.M.T.C.  já que a crescente indústria de ônibus no Brasil e a extinção dos bondes e trólebus no país era uma espécie de modelo a ser seguido pelos governantes municipais.


Bonde 37 (A Tribuna)

Então, as linhas de bondes iam sendo extintas, e para substitui-las eram adquiridos ônibus movidos a diesel, da Mercedes-|Benz.
Em 1970, haviam apenas bondes nas linhas 16, 17, 19, 23, 37 e 42. No começo daquele ano foi extinta a linha 16 de bondes, que seguia até o final da avenida Rangel Pestana, fazendo um balão próximo a subida do Morro da Nova Cintra. Então, foi criada a linha 16 de ônibus comum.

Em Julho daquele ano de 1970 as linhas 17, 19 e 39 deixaram de circular aos Domingos e Feriados. Em Setembro de 1970 foi a vez das linhas 23, 37 e 42, deixarem de circular nesses dias, obedecendo ao programa de extinção dos bondes. Aos poucos as linhas foram sendo extintas: as linhas 19 e 39 de bondes sairam de circulação em 13/02/1971, as circulares 23 e 37, foram extintas no dia 20 de Fevereiro de 1971 e as últimas linhas de bonde a circular em Santos foram as linhas 17 e 42, em 27/02/1971, sendo que o último bonde, da linha 42 circulou ainda na madrugada do dia 28/02/1971.

Veja o itinerário dos bondes em 1970 em uma postagem publicada em 06 de novembro de 2008


BONDES LIGANDO SANTOS A COSIPA, EM CUBATÃO

Após a extinção dos bondes, surgiu uma ideia de iniciativa dos trabalhadores da Cosipa: a criação de uma linha ligando o parque industrial de Cubatão a Santos, até a Ponta da Praia. Seria criados novos trilhos ligando Santos a Cubatão, e os trilhos existentes em Santos seria aproveitados. A ideia repercutiu, mas não foi levada adiante pela prefeitura.

A CRISE DO PETRÓLEO SALVOU OS TRÓLEBUS, MAS NÃO HAVIA MAIS BONDES PARA SEREM SALVOS

A partir da extinção os bondes foram sendo destruidos e suas peças e restos vendidos como sucata, restando pouquíssimos exemplares. A destruição perdurou até 1973, quando veio a crise do petróleo. Os bondes, movidos a eletricidade seriam uma alternativa econômica, mas toda a frota não existia mais. Os trólebus, que por pouco não foram convertidos a diesel, foram mantidos. Vale registrar que um dos trólebus chegou a ser convertido para diesel, em 1972, e este veículo circulou durante anos junto a frota dos demais 49 trólebus existentes.

POSTOS DE GASOLINA NO LUGAR DOS TRILHOS?

Os bondes deixaram as ruas de Santos em 1971, porém os trilhos permaneceram instalados por décadas. Na avenida da Praia, em alguns trechos como entre o Canal 5 e o Canal 6, e entre o Canal 2 e a divisa com São Vicente os bondes tinham uma faixa central exclusiva. Este espaço chegou a ser cogitado para a instalação de postos de gasolina, o que gerou protestos. Então, a prefeitura cobriu os espaços e criou os canteiros centrais naqueles locais.

BONDES SOBRE OS CANAIS

Uma ideia surgida em 1979 pelo recém empossado prefeito Carlos Caldeira Filho tinha como objetivo reimplantar os bondes para circularem sobre os canais de Santos, que seriam cobertos. O projeto polêmico não saiu do papel, mas reacendeu o desejo da volta dos bondes na cidade.



Abrigo de bondes que havia na avenida Presidente Wilson, próximo a Ana Costa (Cidade de Santos, 1976)
Havia abrigos de bondes em vários pontos da cidade. Nos canteiros centrais da Avenida Ana Costa permanecem até hoje, bem como o chamado Abrigo Central, na Praça Mauá, que tem atualmente a mesma função para a linha turística. O abrigo em frente ao Hotel Atlântico, na avenida Presidente Wilson foi demolido no final dos anos 1970. Já o abrigo em frente ao Clube Internacional de Regatas, na avenida Saldanha da Gama foi demolido nos anos 1990.

BONDE: MARCA TURÍSTICA DE SANTOS

Posteriormente os bondes voltaram a circular em um pequeno trecho entre a igreja do Embaré e o canal 5 em uma linha turística que depois foi extinta.

Mas, no ano 2.000 após uma planejamento de revitalização do centro da cidade, surgiu a Linha Turística de Bondes, que como sabemos, é um sucesso.
Aliás, sucesso tão grande que a prefeitura adotou o bonde como marca turística da cidade.


Quem diria que ônibus a diesel iriam estampar em sua lataria um desenho de um bonde!

Um comentário:

  1. Muito boa reportagem sobre os bondes de Santos. Sob a inspiração norte americana de implantação de montadoras e submissão de governos totalitários no Brasil os bondes foram destruídos. Se não fosse a ganância e o poder de alguns poucos como o interventor em Santos e o prefeito Faria Lima em São Paulo ainda teríamos os bondes como os tem a Europa, países asiáticos e os EU, na forma de novos e eficientes VLTs. Parabéns à reportagem.

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